domingo, 24 de julho de 2011

Menininha ♥

Postado por Djessyka às 21:05 20 comentários



Ora força e coragem, um dia você foi medo.
Sei que já precisaste segurar a mão de alguém quando atravessaste a rua, e me peguei imaginando se já cobriste a cabeça por medo do escuro. Vê, menina engraçada, já tiveste medo quando teus primeiros dentinhos de leite começaram a cair? Sei que já acordaste no meio da noite com medo dos monstros de um pesadelo. Já olhaste em baixo da cama antes de dormir? Pra confirmar que nada morava lá.
Sei que as mãozinhas pequenas já procuraram lugar para apoiar-te, sei que já encheste os olhos pequenos com lágrimas.
Fui procurar teus medos porque ainda ontem pensei que não houvesse nenhum, mas não encontrei, te vi um emaranhado de coragem e força. Tive então que trocar meus olhos. Incrível. A menininha dos dentes de leite e do pensamento frágil está aí dentro de você.

Alguém pisoteou teu coração?
Me deixa explicar. Quando troquei de olhos pra ver-te melhor, me assustei. A menininha está encolhida. Você construiu uma cerca em volta dela, para que teus medos não saíssem de dentro de você. Então, vendo que o medo escaparia, colocaste a menininha em uma redoma de vidro. Ela chora.
Liberte a menininha, deixe que as lágrimas que ela tem nos olhos saiam pelos teus, me conte dos teus medos. Por favor, não deixa que uma só lágrima caia longe de mim. Não deixa que caiam no chão, o chão é frio e as lágrimas se machucam. Deixa que caiam em mim.

Quando parei pra conversar com a menininha, não ouvi direito a sua voz, por conta do vidro grosso que a envolvia, tudo fez sentido.
Fui eu. Eu quem pisoteei teu coração. Parei de ouvir sua própria voz e observei de bem longe suas lágrimas caírem. Deixei com que caíssem no chão.
Eu não quis. Mas minha voz não alcança mais os ouvidos da menininha, diga a ela que eu não quero mais que as suas lágrimas caiam no chão.

Vou continuar explicando. Se disseres isso a ela, não é como falar sozinha, é diferente. A menininha das lágrimas, dos medos e dos pavores é você mesma. É a parte sensível que completa teu coração. É assim que eu te vejo. Tua coragem me encoraja, mas a menininha dos medos derruba lágrimas constantemente. Ela é sensível, ela sabe que se suas lágrimas caírem em mim, eu posso ajudar. Ela sabe de tanta coisa. É dela que vem a confiança.
Ora, eu sou a mesma, deixa que ela saia de novo, aos pouquinhos. Primeiro a redoma, depois, quem sabe a cerca. Ela é pequena, mas ela sabe que tem que sair. Uma parte de você sabe disso, deixa que ela coloque o primeiro pézinho pra fora, e quando eu puder segurar-lhe a mão, ela vai entender que eu não quero que as lágrimas caiam longe de mim.

Ela confia em mim, só não esquece que ela ainda é você.


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Postado por Djessyka às 07:17 7 comentários
Era a Cidade que Nunca Dorme
Tilintando bem diante dos meus olhos
Flocos de neve.

Cumprimentei-a

Caí no sono
na Cidade que Nunca Dorme.
Enquanto a cidade dançava,
Eu dormia.

Enquanto a cidade clamava
Eu dormia,

Enquanto a cidade rodopiava
Eu dormia

A cidade não fez silêncio,
Ela me queria dançando com ela,
Clamando com ela,
Rodopiando com ela.

Desculpe Cidade,
é que a cidade de onde eu vim, dorme.

Ressona e sonha.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Postado por Djessyka às 19:29 0 comentários
"Keep on Burning" against Giving up

keep trying, keep trying,
keep trying, keep trying,
keep tryin...
keep tryi,
keep try,
keep tr,
keep t,
keep...
kee,
ke...
k.

Fell asleep!

terça-feira, 28 de junho de 2011

Lembranças

Postado por Djessyka às 19:32 2 comentários
Foi quando me vi higienizando as mãos pra entrar na uti e ouvindo meu pai pedir à enfermeiria pra que me colocasse uma máscara. "Não há perigo" Disse ela sorrindo com um sotaque latino.

Estava ele na primeira cama, seu corpo quase desligado parecia reclamar de desconforto. Meu pai passou a mão em minha cabeça e sussurou tentando desfarçar lágrimas. "Tá aí o vô" foi o mais próximo de uma frase que conseguiu dizer. Com os passos mais lentos que pude usar, aproximei.
O pulmão artificial que mantinha-lhe vivo fazia "plec fu, plec fu, plec, fu" sem parar. Lembro-me de olhar por algum tempo em seu peito e ver os mesmos adesivos que certa vez uma médica colou de brincadeira na minha mão quando eu tinha pouca idade. Nesses adesivos, pequenos grampos que os ligavam a tubos. Segui os tubos com os olhos para ver onde cada um terminava, um deles (o que mais me lembro) acabava em um vidro de oxigênio. Ainda olhando para o peito, lembro-me de ver datas do dia nos curativos. Acho que me lembro também que junto estava o nome da enfermeira que os havia refeito por último.

Plec fu, plec fu, plec fu.

Lembro-me do tubo que adentrava-lhe a boca ressecada. E agora tive coragem de olhar-lhe o rosto. Os olhos cerrados demais, tão pequenos que já não eram dele.
No fundo eu sabia que aquele rosto era o mesmo do sorriso da minha foto preferida. O coração, apesar de induzido a bater, era o mesmo que me amava. Tive que abaixar a cabeça e deixar que as lágrimas caíssem direto no chão, sem passar pelo meu rosto, eu não queria ser vista chorando aquela hora.

Plec, fu, plec fu, plec, fu.

Enquanto eu olhava para baixo, lembro-me vagamente de ter visto meu pai colocar a mão na cabeça de meu avô e fazer uma oração. O silêncio foi quebrado quando meu pai disse em voz alta: "Se Deus quiser, vamos sair dessa". Então, olhou pra mim dizendo que eu poderia conversar com ele se quisesse. Recordo de ter me dito que ele estava sem os aparelhos de ouvido, mas no coração, talvez nos ouvisse. Deixei passar seis ou sete minutos, acho que meu pai pensou que eu havia ignorado a possibilidade, mas eu só estava tomando coragem. Entre palavras trêmulas eu disse exatamente esta frase: "Oi vô, a gente quer você de volta, a gente já tá com saudades de você lá na sua casinha." Meu pai olhou pra ele esperando alguma reação. Parece a maior besteira do mundo, mas no fundo eu tenho certeza que meu pai esperou que ele reagisse ao ouvir minha voz.
Lembro pouco de uma mulher que ali trabalhava e falou algo sobre esperança. Sei que não consegui respondê-la quando ela fez perguntas sobre mim, porque o choro me estava na garganta e tive vergonha de chorar na sua frente. Deixei que meu pai respondesse em meu lugar. Pobre moça simpática, não fiz por querer.
Quando ela virou as costas, fui para o outro lado da cama, junto do meu pai. O tubo na boca ressecada me parecia pior deste lado.

Plec fu, plec fu, plec fu.

Lembro-me de, deste lado, prestar atenção nos batimentos cardíacos que apareciam na tela.
Tudo rodava na minha cabeça quando o médico finalmente chegou para falar com meu pai. Não prestei atenção na conversa. Continuei de costas olhando meu avô e ouvi palavras como "exames", "sinais", "pulmões" e "resultado"

Plec fu, plec fu, plec fu.

Era hora de ir. Hora de virar as costas e deixá-lo lá. Deixei meu pai despedir-se e então, em um instável emaranhado de lágrimas eu disse: " tchau vô"- E passei a mão em sua cabeça pela única vez naquele útimo dia em que o vi "vivo".

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Postado por Djessyka às 15:19 3 comentários
Cansaço: Falta de forças causada por exercício demasiado ou por doença.

Ora amigo Aurélio, você, que define tudo, meu cansaço não parece este que você definiu. Meu cansaço é diferente. Acho que você é feliz, Aurélio. Você não conhece cansaço por derrotas. Sabe Aurélio, as pessoas falam que uma derrota só serve pra te deixar mais forte. Particularmente, já não acredito mais nelas. Não é meu corpo que cansa. Quem cansa é a alma, o espírito, o coração.
Já planejei, tracei linhas, dei meu melhor. Acho mesmo é que tenho que acostumar com isso. Seja lá quem olha por mim, seja Jesus, Krishna, Maomé, Canom, Isthar, Kali, Ísis ou qualquer outra coisa do tipo, seja lá quem for, acho que tem mais o que fazer.
Não há éter, não há gás hilariante, mas eu estou anestesiada. Anestesiada o suficiente pra tentar de novo. O anestésico que me circula nas veias é o torpor que me faz ir em frente. É medo dissolvido em sangue que o meu coração bombeia. É o medo que me deixa entorpecida, assim, e somente assim, sou empurrada para frente. Se o medo de mais uma derrota me faltar no sangue, eu descanso. Eu paro de tentar. A cada dia preciso me dar doses do mesmo medo pra conseguir, pra continuar vendo a mínima vontade tilintando.
Quando eu senti a derrota circulando dentro de mim, senti dor. Meu coração bombeia a derrota com raiva e me sinto mal.

Este cansaço qu'eu sinto está impregnado desde as entranhas. Devo ser um zumbi, o morto-vivo. Não sei se descanso. Quando fecho os olhos só tenho imagens de veias escuras no canto da visão a cada pulsação. É a embriaguez de cansaço. Ela faz com que meu cérebro mande imagens aleatórias e eu, entorpecida pelo medo, tento interpretá-las. Sem sucesso. É só meu cérebro balançando dentro do crânio como um badalar de sinos.

Vejo carros passando sem reparar em seus designs inovados, estalo os dedos com frequência, ouço Beatles, olho as crianças, tiro o tênis sem desamarrar os cadarços.
Sou só eu, vendo tudo passar sem forma ou consistência, tentando encontrar o oposto da derrota. Em verdade busco só isso: O oposto da derrota que se iguala à certeza de que ela não virá mais a correr em minhas veias. O dia em que meu coração bombeará alegrias ao invés de medos. Busco o oposto do cansaço que descança em minhas costas e não deixa mais meu coração amar em paz.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Linhas Pra uma amiga ♥

Postado por Djessyka às 11:38 0 comentários
Eu não sei o que você está pensando,
mas todo mundo sonha quando a noite cai,
Ora, se ao meu alcance foge compreender o que poderia então estampar num papel,
Como hei de entender qual é teu sonho quando a noite cai?

Ora, se a noite caiu, quanto valho eu,
valho eu pouco, ora, por não saber por hora então, que sonha,
Que sonha você,
Quando a noite cai?

Como ouso eu seguir pegadas de confiança,
Ora, como então ouso eu chamar pelo nome?
Afinal nem sei com que sonhas quando a noite cai.

Todo mundo sonha quando a noite cai,
Ora amiga, deixa que sonhem,
Só não vá embora,
Toque uma canção,
Ria de um chapéu,
Reclame de um acorde,

Então me deixa dividir meus próprios sonhos contigo,
Mesmo não sabendo com que sonhas,

Quando a noite cai.

19/03/2011

"Nothing is gonna change her world"

Postado por Djessyka às 00:03 0 comentários
Se um mundo é uma porta
O mundo dela é uma porta,
-Ei menina, Perguntei.
-No meu mundo entra quem deixo entrar, ouvi.

É tudo dela,
O mundo é dela,
-Ei menina, Perguntei.
-Ouça essa canção, ouvi.

Pra onde vão as palavras que você diz?
Misturariam elas com os teus acordes?
-Que mudaria teu universo? Perguntaria.
-No meu universo, mudo o qu'eu quero mudar, ouvi.

O mundo é dela, as palavras dela
Por que haveria eu de mudar?
-Não quero mudar teu mundo menina, disse.
-
-Seja bem vinda, ouvi.




terça-feira, 31 de maio de 2011

Pra alguém importante

Postado por Djessyka às 17:55 0 comentários
Eu tinha um emaranhado de acordes,
Acordes tortos qu'eu vi os primeiros
Acordes agora perfeitos,
Ao alcance dos meus ouvidos,
Seus acordes qu'eu ainda tenho.


Eu tinha Bilhetes entre os cadernos,
Bilhetes e um dia inteiro
Do dia inteiro eu sinto falta,
Os bilhetes eu guardei,
Mas a amizade ainda tenho.


Ah, menina que agora tem uma câmera nas mãos,
Continuo enxergando um gorro vermelho,
É através da câmera qu'eu te vejo
Te vejo acordes, te vejo voz,
te vejo cumplicidade,

Te vejo através da câmera,
na pulseirinha de prata
que'eu abotoava
todas as manhãs.


domingo, 29 de maio de 2011

Pastel

Postado por Djessyka às 14:01 1 comentários
Ei, menina engraçada dos óculos azuis,
Pra onde você corre?
Espere mais um pouco,
vamos tocar uma canção.

Ei, você mesma, minha menina,
carregando um símbolo da paz em seu pescoço
Onde você pensa que vai?
Eu ainda preciso de você.

Ei, Dona dos cadernos engraçados,
Eu chamei teu nome,
Você virou as costas,
Chamei baixinho demais.

Ora, pra onde foi sua voz?
Sumiu com o som do teu violão,
Junto com teu par de all star, Que'u já procurei,
E não está mais na soleira da minha porta.

Ora, já ouvi histórias em que o tempo era o inimigo,
Mas vamos deixar que ele passe,
Quanto mais passa, mais perto.

Ora, vou fazer pastel,
Pra te esperar.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Décima Segunda

Postado por Djessyka às 17:49 1 comentários
M'encontraria a balbuciar "amigo, eu te amo" se existissem ouvidos pra me ouvir. Existem ouvidos.
Que me faltam são corações capazes de m'entregar as mesmas palavras de volta. Cada vez que usei do poder delas fui completamente verdadeira, e se, "eu te amo" significar de fato o mesmo que "eu morreria por você", então eu não me arrependo de tê-las usado em momento algum. Talvez eu só não saiba lidar com elas ainda, porque quando ficam presas na minha garganta eu trato logo de colocar pra fora. O que é pior: Ficar com palavras tão fortes entaladas na garganta, ou colocá-las pra fora e não receber o mesmo em troca?
Passarei a engolí-las, e talvez seja uma promessa. Sei que não é o "meio termo de ouro", mas só haveria um bom equilíbrio se me ajudassem a equilibrar.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Ao seu adeus,

Postado por Djessyka às 18:27 0 comentários
No momento em que o homem entrou no ônibus, o cheiro de bebida forte impregnou nos narizes dos passageiros mais próximos. Estava completamente bêbado. Fazia frio.
Tirou do bolso uma nota com valor alto demais para que houvesse troco, a cobradora recusou e o homem insistiu sem sucesso.
Primeiro, uma garota ofereceu-se para pagar-lhe a passagem, recusou. "Tenho dinheiro"- Disse. Procurou nos bolsos de seu casaco notas com valores menores. Não encontrou. Os passageiros miravam-lhe com os olhos como se fosse algum criminoso, um doente, um assassino.
Depois, a senhora de cabelos tingidos. "Perdi meu filho mais velho" foram as palavras que ela ouviu saindo pela boca do bêbado. A mulher contou trocados e pagou-lhe a passagem. Pediram pra que o homem se sentasse em um lugar que sobrava, lágrimas saíam sem parar de seus olhos. Ele havia perdido um filho.
Os olhares curiosos dentro do ônibus pareciam machucá-lo, mas não mais do que a dor que já rasgava-lhe o peito. Os comentários que discriminavam a figura e não entendiam suas lágrimas, eram lançados de um lado para outro e alguns acertavam em cheio o pobre homem.

Contar-lhe-ei a noite de ontem:
*às oito horas da noite criminosos entraram em uma casa, roubaram o que puderam e mataram o homem que esperava pela esposa.
*às nove e quinze a esposa chega em casa e encontra o marido morto.
*Onze horas da noite a maioria dos parentes e amigos é avisada.
*Um pai passa a noite em claro e chora.

domingo, 1 de maio de 2011

Postado por Djessyka às 14:54 1 comentários
Atravessei a rua.
Na cozinha simples da recém viúva, uma mesa grande abraçava seis crianças, a mulher ocupava um espaço entre duas das crianças e, com a Bíblia aberta, lia algumas passagens marcadas. Quando viram que eu havia entrado, pararam com a leitura, mas não por muito tempo: Pedi que continuassem.
Primeiro ela leu o Sermão da Montanha, sim Gandhi, podem desaparecer da face da terra todos os documentos escritos desde que nos sobre este, somente com este em mãos, ainda saberemos o que fazer com o mundo. Leu também uma Parábola e o Salmo 23, que, conforme ela lia, eu repetia mentalmente as palavras já conhecidas. Fechei os olhos enquanto uma das crianças rezava, e pedia, no emaranhado de palavras infantis, que o ano que estava por nascer viesse com mais alegria. Alegria! Eu também queria alegria.
Ofereceram-me um prato de lentilhas. Não tive vontade, mas aceitei. Sentei entre as crianças e comi uma pequena quantidade. Alguém chamou meu nome do lado de fora, tive que ir.

terça-feira, 19 de abril de 2011

(in)suportável

Postado por Djessyka às 06:50 0 comentários
Lunática como sou, ou estou (apesar de achar que ser lunática não seja um "estado de espírito"), volta e meia estou desenvolvendo teorias sobre mim. Flechas correm no ar levando com elas meus medos, minhas fraquezas, transições, opiniões e saudades. Antes delas há motivos e depois, consequências. As consequências dos meus receios são uma espécie de jogo de azar, como se a probabilidade de acabar em vantagem fosse de fato pequena, ou quase nula. Mas de certa forma, gosto de ver minhas opiniões mudando de consistência, virando imagens que eu nunca pensaria que virassem.
Na maioria das teorias me recuso acreditar qu'eu sou tanto amor, mas não adianta contradizer o que o coração grita. Qual a porcentagem de amor que existem num ser humano? Sinceramente, dentro de mim existe muito mais. Particularmente, tenho uma capacidade incomparável de dedicar um amor imenso por alguns corações. Nas minhas teorias, as conclusões machucam.
Na maioria das vezes, emaranhados de amor e medo me impedem de enxergar. Breu. Breu porque nem sempre os outros corações têm dentro deles o mesmo amor pra me oferecer. Insuportável.



sexta-feira, 25 de março de 2011

"Um ponto oito"

Postado por Djessyka às 21:25 5 comentários
Não havia necessidade de acelerar porque eu não estava atrasada, mas não havia sinal de outro carro na estrada além do meu, então, acelerei o que pude. Meus pensamentos estavam a mil desde a noite passada. Conforme os pensamentos iam pesando sobre minha cabeça, eu acelerava. Daquela maneira eu atravessaria cidades. A velocidade me mantia acordada naquela hora da madrugada, e já era segunda-feira. Meros mortais dormiam suas horas de sono enquanto eu queria continuar acordada no rumo de um pensamento que me fazia acelerar. Eu não queria cair no sono, era roubada, e se o fizesse, eu iria interromper pensamentos pra com eles me encontrar no dia seguinte. Então, na minha tolice, eu queria acabar de pensá-los hoje mesmo, e tirar de mim o fardo que não me deixava parar de acelerar.

Resolvi diminuir. E aí um estrondo horroroso. Depois a queda. Estrondo, queda, asfalto. Hove desordem dentro de mim: Queda, asfalto, estrondo, estrondo, queda. O som queimou meus ouvidos. Acho que matei alguém.

A luz do poste iluminava um corpo como holofotes iluminam a protagonista de uma peça de teatro. A mulher, em seus últimos instantes de vida, notou que eu estava ali, ao mesmo tempo notei a poça de sangue que se abria embaixo dela como se fosse uma passagem, a qual se abriria e levaria aquele corpo embora. Torci pra que isso acontecesse, não aconteceu. Lá estávamos nós: Eu e a pessoa que iria perder a vida em instantes por minha causa. Eramos agora dois sob o holofote protagonizando a cena pobre de platéia. O que havia eu de dizer, enquanto ela respirava? "Perdoe-me, eu não queria..." Quando tal frase me passou pela cabeça, confesso ter achado pouca graça em ter pensado com tal cinismo. É claro que não havia perdão, eu havia tirado-lhe a vida.
Tomei-lhe a mão suja de sangue e estava fria. Nada mais adiantaria, e então, assisti sua morte.
Saí pra juntar seus pertences que haviam sido lançados longe dela. Um chinelo, uma bolsa. Uma bolsa. Uma carteira, uma identidade. Resolvi saber o nome da mulher que eu havia tirado a vida, chamava-se Laura. Havia fotos na carteira. Crianças. E atrás da foto três por quatro da garotinha lia-se Luíza. Agora Luíza seria uma menininha de olhos inxados. Luíza iria me odiar até o último de seus dias.


Adeus, Laura.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Lá eu era amiga do rei.

Postado por Djessyka às 15:46 1 comentários
sem mais.

sábado, 12 de março de 2011

Arco-íris

Postado por Djessyka às 07:00 2 comentários
Na cidade daquela menina cantavam o que não se tinha,
construiam o que não se precisava,
Nomeavam o que não tinha nome,
colocaram mais três cores no arco-íris.

A menina achava que o que ela sentia, não precisava sentir.
Mas ela sentia, "dessentia", sentia.

Ela sentia ciúmes,
E viu que era tão ruim, que ao nomear,
Tirou do arco-íris três cores.

Se existe um sentimento frio,
a ponto de torturar tanto aquela menina,
Três cores deixaram de existir.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Amigos&agulhas

Postado por Djessyka às 17:55 3 comentários
Toda manhã eu tecia nas minhas agulhas alguns pontos que aos poucos tomavam a forma de um quadrado, posteriormente um retângulo e aumentava devagar. Na quinta-feira eu tecia durante tarde também. Eu não tinha prática com os pontos na agulha, mas com cuidado eu tentava não deixar que formassem nós. Um avesso, uma laçada, um avesso, uma laçada, e quando eu descuidava e voltava a olhar, via que entre meus avessos e laçadas havia um nó, uma falha. Eu podia muito bem continuar e deixar a falha, afinal, ela só iria aparecer pra quem olhasse de perto. Mas eu sempre tirava o pedaço de pano da agulha e desmanchava até chegar na falha, e depois, com cuidado, colocava de volta pelas laçadas já feitas. Eu nunca deixava minhas falhas descansando, eu voltava atrás, por mais que fossem pequenas, por mais que dessem trabalho pra desmanchar e tecer novamente as fileiras perdidas. Hoje eu vejo que meus pontos, que antes ficavam tão juntos e perfeitos estão desfiando. Um deles tive que desmanchar bastante, o suficiente pra alcançar o Rio Grande do Sul, e apesar da distância, ainda está preso ao meu retângulo, que fica cada vez menor. Talvez não solte. Outros estão quase arrebentando, eles voltam pra dar um nozinho, mas a lã não fica perfeita novamente, o nó fica aparecendo. Algumas já arrebentaram e eu não vou sair por aí tentando achar a outra ponta pra amarrar de volta. Uma delas não desmancha, bem, os avessos e as laçadas ainda estão perfeitos, exatamente da maneira que eu teci.





09/12/2013: O ponto perfeito arrebentou.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Pedaços

Postado por Djessyka às 05:58 5 comentários

E de todos os lugares qu'eu passei pra chegar até aqui, os que mais me chamaram atenção foram os qu'eu estava sozinha. Não pelo medo que senti, nem pela covarde qu'eu fui, mas sim pelas coisas qu'eu mudei. Não no mundo, porque ele é grande demais. Mas em mim. E tantas vezes tirei meu chapéu pra pessoas que me ensinaram a lutar contra os meus pavores, mas os pavores eram meus. Tão meus que tive que aprender sozinha. Tão sozinha que o chapéu ninguém tirou pra mim.
Meus medos têm um ar, e o ar do medo é ruim. Ruim só depois qu'eu o transformo em medo, porque ele entra puro dentro de mim. E eu devolvo o mesmo ar que eu coloco pra dentro, com os mesmos medos, as mesmas angústias, os mesmos amores... E depois de pouco tempo, quando volta o ar puro, faço com que a pureza se transforme na mesma angústia, no mesmo medo, e aí, a transformação constante: Ar puro, angústia, ar puro, angústia, ar puro, angústia. Mais um passo, mais ar puro. E quando o medo vai perdendo a força, eu transformo o ar em alívio. O alívio é mais fácil, mais doce, mais leve. E já qu'eu continuo pendurando no varal meus momentos de solidão, digo que sorrir sozinha me faz bem, aí a vontade de dar passos é maior que a de ficar encolhida no mesmo lugar. Só lamento ser inegável meu medo constante do medo voltar.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Favourite Things.

Postado por Djessyka às 07:12 12 comentários

Gosto de ouvir o que as pessoas têm a dizer,
Gosto das atitudes das crianças,
Gosto da corda Sol do meu violão e daquela foto minha no 'Imagine' em Nova York. Gosto do som que faz a chaleira cheia quando bate no cantinho da pia, e também do barulho de pés correndo no molhado. Gosto de ver fotos dos meus amigos quando eram pequenos e gosto quando alguém joga video game comigo. Gosto do Ringo Starr e gosto quando meu pai toca Greensleeves.
Gosto daquela música que diz que há um lugar em que os problemas derretem como balas de limão. Gosto de ouvir 'eu te amo' e de desenhar arco-íris. Gosto do Cebolinha e de ver o sol nascer. Gosto da beira do mar, do cheiro de mel e de andar descalça na grama. Gosto do Chico Buarque e de quando alguém lê o que eu escrevo. Gosto de lápis de cor, de comer morango, de abrir o coração, de tesouras que cortam engraçado. Gosto de sorrisos, de cumplicidade e de pacotes de presente. Gosto quando tô esperando alguém e a campainha toca, gosto de dar presente, de correr na chuva, gosto quando me elogiam, quando me defendem, quando me protegem, quando os lápis de cor caem da caixa e fazem aquele barulho engraçado. Gosto que me mostrem onde eu erro. Gosto da voz das pessoas que eu amo, do cheiro delas e de all star colorido.

E agora, as coisas que eu gosto já estão passando mais rápido pela minha cabeça, passando a uma velocidade que me impede de escrever.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Dias atrás

Postado por Djessyka às 05:46 3 comentários

Prestei atenção quando Tom Jobim resolveu me dizer:
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar

Eu já tinha dito coisas que não deveria,
Mas eu fechei os olhos e ele continuou:
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E aí, meu pai, eu me arrependi e chorei
E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida

Mas eu sabia que tudo ia ficar bem
o mais rápido possível
eu fechei os olhos e Tom me disse:
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou

E agora eu tive certeza que as vezes a
vida nos faz dizer coisas que é melhor
que fiquem guardadas dentro da gente
A vida arma,
Eu caio.
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida


Não importa o que eu disse,
Foi a vida que armou pra que eu dissesse
O que importa agora é te provar que

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida



 

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