quarta-feira, 21 de julho de 2010

Postado por Djessyka às 18:54 3 comentários


Eu acordei deitada no nada, não sabia que horas eram, e nem o que eu fazia naquele lugar horrível. Olhei desesperada em volta e não conseguia colocar as coisas em ordem. O cheiro era cinza e a cor era fria. Minha casa não estava mais sobre a minha cabeça, de onde nunca deveria ter saído, aliás as casas não estavam mais lá. Só aquele galpão imenso na minha frente.
Todas as pessoas que eu mais amava entravam naquele lugar com bolsas pequenas, ninguém entrava feliz, mas todos faziam questão de estar la dentro.
Eu não podia ficar ali parada soluçando pra sempre um choro que não saía: Levantei e corri até a porta. Estavam mesmo todos lá, todos acomodados como podiam dentro de um trem.
Era incrível como o cinza lá de fora parecia claro quando comparado com a escuridão que estava dentro do galpão. Não importou a escuridão, eu reconheci cada rosto dentro daquele trem, eu enxergava mais e mais cada olhar que a escuridão tentava engolir.
Eu não sabia pra onde iam, mas entendi que não era bom quando notei os olhos que não encontravam um pingo de sentido naquilo tudo. Eu precisava ir também. Enxuguei as lágrimas que agora sim saiam descontroladamente e corri pra entrar naquele trem quando senti que uma mão me puxou pelos cabelos. Desequilibrei. Recebi um "Não" que doeu mais que qualquer tapa que tivesse levado. O homem que vestia preto não me deixou entrar no trem e eu tinha que ficar. Chorei, ajoelhei, implorei, e ele não disse nada, não se comoveu. Não cedeu.

O trem partiu sem mim.
Enquanto partia reconheci mais alguns olhares que eu amava.
Decidi correr pelos trilhos o máximo que eu podia,
perdi meus sapatos.

Não poderia parar, não ali, mas os trilhos estavam queimando meus pés descalços enquanto eu lutava pra não sentir nada daquilo. Eu tive que admitir,
Fiquei pra trás.

Lágrimas de desespero tornaram-se lágrimas de alívio num passe de mágica quando eu acordei de novo, dessa vez com a minha casa e tantas outras coisas exatamente onde deveriam estar.
Não fiz questão alguma de entender.
Ninguém vai a lugar algum.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Postado por Djessyka às 09:08 2 comentários




Acho qu'eu sou um rosto na multidão. Daqueles bem iguais.
Acho qu'eu sou só mais uma menina de calça jeans qu'escreve sobre revolução sem capacidade de mudar o próprio nome. Sou um número. Um RG. Um sobrenome.
Um sobrenome, sobrenome, sobrenome que se une com outro sobrenome, sobrenome, sobrenome, que pára de caminhar pra admirar... Um sobrenome.
Eu paro com o mundo pra elogiar um sobrenome que não é meu. Nem deles. É um RG que se destacou e ganhou milhares de RG's admiradores.
Eu tentei encontrar meu rosto no meio da multidão de rg's. Tentei enxergar e m'encontrar, eu queria ver se havia destaque, e não havia. Não havia mesmo.
Ah, se eu fosse bonita o suficiente poderia destacar meu sobrenome vestindo marcas famosas e andando nas passarelas com passos impecáveis lançando novidades pra quem quisesse aderí-las.
S'eu tivesse talento suficiente sairia esbanjando vozes e acordes pra quem quisesse ouví-los e repetí-los cantarolando por aí.
Ou quem sabe se eu fizesse cestas e gols me destacaria nas bandas de lá.
Se eu soubesse poderia pintar quadros e vendê-los por aí pelo mundo.
S'eu eu fosse um gênio poderia ter desenvolvido a cura pra doenças incuráveis e ter colocado meu sobrenome na fórmula curadora, que honra.
Acho que tudo isso não dá certo pros desajeitados, nem pros tortos, para os ansiosos, nem para os inseguros. Muito menos para os fracos.
Não me importo em enfrentar filas ou ser mais uma falsa revolucionária na multidão.
Eu ainda penso, ainda sinto, fraquejo. Choro, canto.

Ontem os famosos sobrenomes entraram em campo, fizeram um gol e levaram dois.
Voltaram pra casa e o Brasil abaixou a cabeça.

Mas as crianças "anônimas" continuam brincando aqui na rua de casa
entre sorrisos anônimos correm por aí. Não desapontam ninguém.


 

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