sexta-feira, 25 de março de 2011

"Um ponto oito"

Postado por Djessyka às 21:25 5 comentários
Não havia necessidade de acelerar porque eu não estava atrasada, mas não havia sinal de outro carro na estrada além do meu, então, acelerei o que pude. Meus pensamentos estavam a mil desde a noite passada. Conforme os pensamentos iam pesando sobre minha cabeça, eu acelerava. Daquela maneira eu atravessaria cidades. A velocidade me mantia acordada naquela hora da madrugada, e já era segunda-feira. Meros mortais dormiam suas horas de sono enquanto eu queria continuar acordada no rumo de um pensamento que me fazia acelerar. Eu não queria cair no sono, era roubada, e se o fizesse, eu iria interromper pensamentos pra com eles me encontrar no dia seguinte. Então, na minha tolice, eu queria acabar de pensá-los hoje mesmo, e tirar de mim o fardo que não me deixava parar de acelerar.

Resolvi diminuir. E aí um estrondo horroroso. Depois a queda. Estrondo, queda, asfalto. Hove desordem dentro de mim: Queda, asfalto, estrondo, estrondo, queda. O som queimou meus ouvidos. Acho que matei alguém.

A luz do poste iluminava um corpo como holofotes iluminam a protagonista de uma peça de teatro. A mulher, em seus últimos instantes de vida, notou que eu estava ali, ao mesmo tempo notei a poça de sangue que se abria embaixo dela como se fosse uma passagem, a qual se abriria e levaria aquele corpo embora. Torci pra que isso acontecesse, não aconteceu. Lá estávamos nós: Eu e a pessoa que iria perder a vida em instantes por minha causa. Eramos agora dois sob o holofote protagonizando a cena pobre de platéia. O que havia eu de dizer, enquanto ela respirava? "Perdoe-me, eu não queria..." Quando tal frase me passou pela cabeça, confesso ter achado pouca graça em ter pensado com tal cinismo. É claro que não havia perdão, eu havia tirado-lhe a vida.
Tomei-lhe a mão suja de sangue e estava fria. Nada mais adiantaria, e então, assisti sua morte.
Saí pra juntar seus pertences que haviam sido lançados longe dela. Um chinelo, uma bolsa. Uma bolsa. Uma carteira, uma identidade. Resolvi saber o nome da mulher que eu havia tirado a vida, chamava-se Laura. Havia fotos na carteira. Crianças. E atrás da foto três por quatro da garotinha lia-se Luíza. Agora Luíza seria uma menininha de olhos inxados. Luíza iria me odiar até o último de seus dias.


Adeus, Laura.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Lá eu era amiga do rei.

Postado por Djessyka às 15:46 1 comentários
sem mais.

sábado, 12 de março de 2011

Arco-íris

Postado por Djessyka às 07:00 2 comentários
Na cidade daquela menina cantavam o que não se tinha,
construiam o que não se precisava,
Nomeavam o que não tinha nome,
colocaram mais três cores no arco-íris.

A menina achava que o que ela sentia, não precisava sentir.
Mas ela sentia, "dessentia", sentia.

Ela sentia ciúmes,
E viu que era tão ruim, que ao nomear,
Tirou do arco-íris três cores.

Se existe um sentimento frio,
a ponto de torturar tanto aquela menina,
Três cores deixaram de existir.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Amigos&agulhas

Postado por Djessyka às 17:55 3 comentários
Toda manhã eu tecia nas minhas agulhas alguns pontos que aos poucos tomavam a forma de um quadrado, posteriormente um retângulo e aumentava devagar. Na quinta-feira eu tecia durante tarde também. Eu não tinha prática com os pontos na agulha, mas com cuidado eu tentava não deixar que formassem nós. Um avesso, uma laçada, um avesso, uma laçada, e quando eu descuidava e voltava a olhar, via que entre meus avessos e laçadas havia um nó, uma falha. Eu podia muito bem continuar e deixar a falha, afinal, ela só iria aparecer pra quem olhasse de perto. Mas eu sempre tirava o pedaço de pano da agulha e desmanchava até chegar na falha, e depois, com cuidado, colocava de volta pelas laçadas já feitas. Eu nunca deixava minhas falhas descansando, eu voltava atrás, por mais que fossem pequenas, por mais que dessem trabalho pra desmanchar e tecer novamente as fileiras perdidas. Hoje eu vejo que meus pontos, que antes ficavam tão juntos e perfeitos estão desfiando. Um deles tive que desmanchar bastante, o suficiente pra alcançar o Rio Grande do Sul, e apesar da distância, ainda está preso ao meu retângulo, que fica cada vez menor. Talvez não solte. Outros estão quase arrebentando, eles voltam pra dar um nozinho, mas a lã não fica perfeita novamente, o nó fica aparecendo. Algumas já arrebentaram e eu não vou sair por aí tentando achar a outra ponta pra amarrar de volta. Uma delas não desmancha, bem, os avessos e as laçadas ainda estão perfeitos, exatamente da maneira que eu teci.





09/12/2013: O ponto perfeito arrebentou.
 

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