Não havia necessidade de acelerar porque eu não estava atrasada, mas não havia sinal de outro carro na estrada além do meu, então, acelerei o que pude. Meus pensamentos estavam a mil desde a noite passada. Conforme os pensamentos iam pesando sobre minha cabeça, eu acelerava. Daquela maneira eu atravessaria cidades. A velocidade me mantia acordada naquela hora da madrugada, e já era segunda-feira. Meros mortais dormiam suas horas de sono enquanto eu queria continuar acordada no rumo de um pensamento que me fazia acelerar. Eu não queria cair no sono, era roubada, e se o fizesse, eu iria interromper pensamentos pra com eles me encontrar no dia seguinte. Então, na minha tolice, eu queria acabar de pensá-los hoje mesmo, e tirar de mim o fardo que não me deixava parar de acelerar.
Resolvi diminuir. E aí um estrondo horroroso. Depois a queda. Estrondo, queda, asfalto. Hove desordem dentro de mim: Queda, asfalto, estrondo, estrondo, queda. O som queimou meus ouvidos. Acho que matei alguém.
A luz do poste iluminava um corpo como holofotes iluminam a protagonista de uma peça de teatro. A mulher, em seus últimos instantes de vida, notou que eu estava ali, ao mesmo tempo notei a poça de sangue que se abria embaixo dela como se fosse uma passagem, a qual se abriria e levaria aquele corpo embora. Torci pra que isso acontecesse, não aconteceu. Lá estávamos nós: Eu e a pessoa que iria perder a vida em instantes por minha causa. Eramos agora dois sob o holofote protagonizando a cena pobre de platéia. O que havia eu de dizer, enquanto ela respirava? "Perdoe-me, eu não queria..." Quando tal frase me passou pela cabeça, confesso ter achado pouca graça em ter pensado com tal cinismo. É claro que não havia perdão, eu havia tirado-lhe a vida.
Tomei-lhe a mão suja de sangue e estava fria. Nada mais adiantaria, e então, assisti sua morte.
Saí pra juntar seus pertences que haviam sido lançados longe dela. Um chinelo, uma bolsa. Uma bolsa. Uma carteira, uma identidade. Resolvi saber o nome da mulher que eu havia tirado a vida, chamava-se Laura. Havia fotos na carteira. Crianças. E atrás da foto três por quatro da garotinha lia-se Luíza. Agora Luíza seria uma menininha de olhos inxados. Luíza iria me odiar até o último de seus dias.
Adeus, Laura.
Resolvi diminuir. E aí um estrondo horroroso. Depois a queda. Estrondo, queda, asfalto. Hove desordem dentro de mim: Queda, asfalto, estrondo, estrondo, queda. O som queimou meus ouvidos. Acho que matei alguém.
A luz do poste iluminava um corpo como holofotes iluminam a protagonista de uma peça de teatro. A mulher, em seus últimos instantes de vida, notou que eu estava ali, ao mesmo tempo notei a poça de sangue que se abria embaixo dela como se fosse uma passagem, a qual se abriria e levaria aquele corpo embora. Torci pra que isso acontecesse, não aconteceu. Lá estávamos nós: Eu e a pessoa que iria perder a vida em instantes por minha causa. Eramos agora dois sob o holofote protagonizando a cena pobre de platéia. O que havia eu de dizer, enquanto ela respirava? "Perdoe-me, eu não queria..." Quando tal frase me passou pela cabeça, confesso ter achado pouca graça em ter pensado com tal cinismo. É claro que não havia perdão, eu havia tirado-lhe a vida.
Tomei-lhe a mão suja de sangue e estava fria. Nada mais adiantaria, e então, assisti sua morte.
Saí pra juntar seus pertences que haviam sido lançados longe dela. Um chinelo, uma bolsa. Uma bolsa. Uma carteira, uma identidade. Resolvi saber o nome da mulher que eu havia tirado a vida, chamava-se Laura. Havia fotos na carteira. Crianças. E atrás da foto três por quatro da garotinha lia-se Luíza. Agora Luíza seria uma menininha de olhos inxados. Luíza iria me odiar até o último de seus dias.
Adeus, Laura.