domingo, 11 de março de 2012

Minha visão da História.

Postado por Djessyka às 06:31 0 comentários
Guerra do Paraguai, 1864- 1870. 60 mil mortos por combate ou doenças.
Guerra da Secessão, 1861 e 1865. Total estimado de 970 mil pessoas mortas, onde 618 mil eram soldados.
Primeira Guerra mundial, 1914- 1918, Saldo aproximado de mais de 19 milhões de mortos, dos quais 5% eram civis.
Segunda Guerra Mundial, 1939- 1945. Setenta milhões de mortes.
Hiroshima e Nagasaki, 6 e 9 de agosto de 1945. 140 mil mortos em Hiroshima e 80 mil em Nagasaki, sem a inclusão de mortes posteriores devido à radiação.

É assim que se estuda História. Motivo, Causa, consequência, relação, data, e números. Foi assim que eu aprendi História. Foi assim que você aprendeu História. É assim que historiadores aprendem História.
Independente da superficialidade dos Positivistas esperando o desconhecido acontecer nas profundezas, para registrar na história sua visão de carvalho fixo ao chão, totalmente dependente de um documento oficial declarando um número de mortes. Ou de um Marxista explicando que as coisas mudaram porque a Luta de Classes prevaleceu.

Desculpem historiadores, desculpe Eric Hobsbawm. Mas quando ouço História e números, não é exatamente nos números que eu penso. Não consigo me concentrar nas causas e consequências.

Penso na Guerra do Paraguai como um civil que viu seu melhor amigo morrendo de cólera entre condições de higiene deploráveis, com os próprios pés apodrecendo, sem poder fazer nada para reanimá-lo. E enquanto ele via seu amigo definhar, lembrava dos passeios em família com sua mulher Eunice e a garotinha de pele morena e olhos grandes, que ele preferia não pensar no nome (que ele mesmo escolhera), pra que seu coração não doesse mais que seu estômago.
E a Guerra da Secessão, com União e Confederação desprovidos de um plano de recrutamento de soldados, vendo seus homens morrerem e forçando cidadãos brancos de dezoito a trinta e cinco anos, ou dezessete a cinquenta anos (no caso da Confederação) a lutarem, mas por serem ricos poderiam colocar homens humildes em seus lugares. Homens que sonhavam antes de tudo, foram colocados na guerra para morrer. Homens que estavam economizando dinheiro em baixo de seus colchões para tentar realizar um pequeno sonho de infância. E na sua mediocridade o governo pagava 13 dólares mensais, mais 42 dólares uma vez por ano como incentivo.

Quando o cara na frente da sala de aula me fala sobre a queda da Bastilha, a única coisa que eu consigo imaginar é um monte de gente simples tentando lutar por alguma coisa. Marceneiros com trabalhos por fazer, diaristas com suas articulações cansadas, operários descalços atirando pregos por falta de munição.

E dos números que você aprendeu a ver na Primeira guerra, desses números, quantos eram filhos de homens de bem que concertavam relógios, e tinham na parede da relojoaria uma Imagem de Jesus Cristo. Quantos gostavam de macarrão, quantos liam para seus filhos uma história antes de dormir, quantos ainda gostavam que suas mães lhes cortassem as unhas dos pés. Quem se importa? Quando todos eles estavam entrincheirados no meio de um gás tóxico que tornou a vida na trincheira mais miserável.
Soldados que, presos em uma trincheira criavam um vínculo de amizade e, de uma trincheira próxima à deles (poucos metros, diz-se) ouviam a conversa de soldados inimigos. Ouviam sobre quem eles havia deixado para trás, ouviam suas piadas, risadas, cantos, choros desesperados. E muitos se quer sabiam exatamente o motivo de estarem tentando matar homens que se pareciam tanto com eles. Quantos livros Positivistas ou Marxistas se preocupam em lembrar que quando o Natal estava por vir, os entrincheirados levantaram diversas tréguas e soldados britânicos, franceses e alemães resolveram se encontrar para celebrar o natal. Onde estava então o Nacionalismo implantado em suas cabeças? Completamente inconsistente. Certas fontes trazem a informação de que alguns soldados chegaram a trocar presentes (seus próprios pertences), e mostrar fotos de sua família para soldados inimigos, e também a montarem árvores de natal improvisadas. Cartazes com "Merry Christmas" começaram a aparecer, e quando de repente rolou uma bola de futebol, começaram uma partida com 60 jogadores em cada time! E dizem ainda que a vitória de 3x2 foi dos alemães. Placas de "Vocês não guerreiam, nós não guerreamos" Foram levantadas. O Meu sentimento estava lá.
Eles não queriam mais morrer. Essa era a hora! Hora de um daqueles homens, aquele filho do professor de Literatura que preparava as aulas antes de dormir, afinal ele era hábil com as palavras, talvez fosse mesmo esta a hora de ele subir em um banquinho e dizer palavras bonitas sobre fraternidade. E ali seria o fim da Guerra. Caro que não. A fiscalização aumentou. E na minha mente vejo homens de cabeças baixas, amando seus inimigos, mas voltando para o seu buraco com a intenção de matá-los. E ainda assim, escrevendo em seus diários palavras como "Live and let live" E fazendo menções de boa vizinhança.

O povo gosta dos números das guerras. Lindos números. Altos.
Lindo ver que já em 1945 isso não serviu de lição. E não contentes, o ataque virou nuclear. Particularmente não sei qual foi Little Boy e qual foi a Fat man, isso não me interessa. Eu não gosto de saber os motivos. Nenhum motivo é bom o suficiente pra se causar oitenta mil mortes de uma só vez quando Graham Bell já havia inventado o telefone há quase cem anos atrás. Oitenta mil mortes, um número como qualquer outro citado num livro de história. Quantos desses oitenta mil eram crianças? Quantas eram mulheres que faziam delícias na cozinha. Quantos jovens apaixonados ensaiavam uma maneira de contar isso a uma garota, quantas eram senhorinhas magras que caminhavam pela manhã. Quantas crianças esperavam ansiosas o ano seguinte para começarem a frequentar a escola? Quantas outras esperavam pelo seu aniversário pra ganhar um presente? Quantas mulheres esperavam o nascimento do seu primeiro filho para colocar-lhe o nome de Keitarou, só porque significava "Filho Abençoado".
Não sou anacrônica, não foi justo.

 

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