terça-feira, 28 de junho de 2011

Lembranças

Postado por Djessyka às 19:32 2 comentários
Foi quando me vi higienizando as mãos pra entrar na uti e ouvindo meu pai pedir à enfermeiria pra que me colocasse uma máscara. "Não há perigo" Disse ela sorrindo com um sotaque latino.

Estava ele na primeira cama, seu corpo quase desligado parecia reclamar de desconforto. Meu pai passou a mão em minha cabeça e sussurou tentando desfarçar lágrimas. "Tá aí o vô" foi o mais próximo de uma frase que conseguiu dizer. Com os passos mais lentos que pude usar, aproximei.
O pulmão artificial que mantinha-lhe vivo fazia "plec fu, plec fu, plec, fu" sem parar. Lembro-me de olhar por algum tempo em seu peito e ver os mesmos adesivos que certa vez uma médica colou de brincadeira na minha mão quando eu tinha pouca idade. Nesses adesivos, pequenos grampos que os ligavam a tubos. Segui os tubos com os olhos para ver onde cada um terminava, um deles (o que mais me lembro) acabava em um vidro de oxigênio. Ainda olhando para o peito, lembro-me de ver datas do dia nos curativos. Acho que me lembro também que junto estava o nome da enfermeira que os havia refeito por último.

Plec fu, plec fu, plec fu.

Lembro-me do tubo que adentrava-lhe a boca ressecada. E agora tive coragem de olhar-lhe o rosto. Os olhos cerrados demais, tão pequenos que já não eram dele.
No fundo eu sabia que aquele rosto era o mesmo do sorriso da minha foto preferida. O coração, apesar de induzido a bater, era o mesmo que me amava. Tive que abaixar a cabeça e deixar que as lágrimas caíssem direto no chão, sem passar pelo meu rosto, eu não queria ser vista chorando aquela hora.

Plec, fu, plec fu, plec, fu.

Enquanto eu olhava para baixo, lembro-me vagamente de ter visto meu pai colocar a mão na cabeça de meu avô e fazer uma oração. O silêncio foi quebrado quando meu pai disse em voz alta: "Se Deus quiser, vamos sair dessa". Então, olhou pra mim dizendo que eu poderia conversar com ele se quisesse. Recordo de ter me dito que ele estava sem os aparelhos de ouvido, mas no coração, talvez nos ouvisse. Deixei passar seis ou sete minutos, acho que meu pai pensou que eu havia ignorado a possibilidade, mas eu só estava tomando coragem. Entre palavras trêmulas eu disse exatamente esta frase: "Oi vô, a gente quer você de volta, a gente já tá com saudades de você lá na sua casinha." Meu pai olhou pra ele esperando alguma reação. Parece a maior besteira do mundo, mas no fundo eu tenho certeza que meu pai esperou que ele reagisse ao ouvir minha voz.
Lembro pouco de uma mulher que ali trabalhava e falou algo sobre esperança. Sei que não consegui respondê-la quando ela fez perguntas sobre mim, porque o choro me estava na garganta e tive vergonha de chorar na sua frente. Deixei que meu pai respondesse em meu lugar. Pobre moça simpática, não fiz por querer.
Quando ela virou as costas, fui para o outro lado da cama, junto do meu pai. O tubo na boca ressecada me parecia pior deste lado.

Plec fu, plec fu, plec fu.

Lembro-me de, deste lado, prestar atenção nos batimentos cardíacos que apareciam na tela.
Tudo rodava na minha cabeça quando o médico finalmente chegou para falar com meu pai. Não prestei atenção na conversa. Continuei de costas olhando meu avô e ouvi palavras como "exames", "sinais", "pulmões" e "resultado"

Plec fu, plec fu, plec fu.

Era hora de ir. Hora de virar as costas e deixá-lo lá. Deixei meu pai despedir-se e então, em um instável emaranhado de lágrimas eu disse: " tchau vô"- E passei a mão em sua cabeça pela única vez naquele útimo dia em que o vi "vivo".

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Postado por Djessyka às 15:19 3 comentários
Cansaço: Falta de forças causada por exercício demasiado ou por doença.

Ora amigo Aurélio, você, que define tudo, meu cansaço não parece este que você definiu. Meu cansaço é diferente. Acho que você é feliz, Aurélio. Você não conhece cansaço por derrotas. Sabe Aurélio, as pessoas falam que uma derrota só serve pra te deixar mais forte. Particularmente, já não acredito mais nelas. Não é meu corpo que cansa. Quem cansa é a alma, o espírito, o coração.
Já planejei, tracei linhas, dei meu melhor. Acho mesmo é que tenho que acostumar com isso. Seja lá quem olha por mim, seja Jesus, Krishna, Maomé, Canom, Isthar, Kali, Ísis ou qualquer outra coisa do tipo, seja lá quem for, acho que tem mais o que fazer.
Não há éter, não há gás hilariante, mas eu estou anestesiada. Anestesiada o suficiente pra tentar de novo. O anestésico que me circula nas veias é o torpor que me faz ir em frente. É medo dissolvido em sangue que o meu coração bombeia. É o medo que me deixa entorpecida, assim, e somente assim, sou empurrada para frente. Se o medo de mais uma derrota me faltar no sangue, eu descanso. Eu paro de tentar. A cada dia preciso me dar doses do mesmo medo pra conseguir, pra continuar vendo a mínima vontade tilintando.
Quando eu senti a derrota circulando dentro de mim, senti dor. Meu coração bombeia a derrota com raiva e me sinto mal.

Este cansaço qu'eu sinto está impregnado desde as entranhas. Devo ser um zumbi, o morto-vivo. Não sei se descanso. Quando fecho os olhos só tenho imagens de veias escuras no canto da visão a cada pulsação. É a embriaguez de cansaço. Ela faz com que meu cérebro mande imagens aleatórias e eu, entorpecida pelo medo, tento interpretá-las. Sem sucesso. É só meu cérebro balançando dentro do crânio como um badalar de sinos.

Vejo carros passando sem reparar em seus designs inovados, estalo os dedos com frequência, ouço Beatles, olho as crianças, tiro o tênis sem desamarrar os cadarços.
Sou só eu, vendo tudo passar sem forma ou consistência, tentando encontrar o oposto da derrota. Em verdade busco só isso: O oposto da derrota que se iguala à certeza de que ela não virá mais a correr em minhas veias. O dia em que meu coração bombeará alegrias ao invés de medos. Busco o oposto do cansaço que descança em minhas costas e não deixa mais meu coração amar em paz.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Linhas Pra uma amiga ♥

Postado por Djessyka às 11:38 0 comentários
Eu não sei o que você está pensando,
mas todo mundo sonha quando a noite cai,
Ora, se ao meu alcance foge compreender o que poderia então estampar num papel,
Como hei de entender qual é teu sonho quando a noite cai?

Ora, se a noite caiu, quanto valho eu,
valho eu pouco, ora, por não saber por hora então, que sonha,
Que sonha você,
Quando a noite cai?

Como ouso eu seguir pegadas de confiança,
Ora, como então ouso eu chamar pelo nome?
Afinal nem sei com que sonhas quando a noite cai.

Todo mundo sonha quando a noite cai,
Ora amiga, deixa que sonhem,
Só não vá embora,
Toque uma canção,
Ria de um chapéu,
Reclame de um acorde,

Então me deixa dividir meus próprios sonhos contigo,
Mesmo não sabendo com que sonhas,

Quando a noite cai.

19/03/2011

"Nothing is gonna change her world"

Postado por Djessyka às 00:03 0 comentários
Se um mundo é uma porta
O mundo dela é uma porta,
-Ei menina, Perguntei.
-No meu mundo entra quem deixo entrar, ouvi.

É tudo dela,
O mundo é dela,
-Ei menina, Perguntei.
-Ouça essa canção, ouvi.

Pra onde vão as palavras que você diz?
Misturariam elas com os teus acordes?
-Que mudaria teu universo? Perguntaria.
-No meu universo, mudo o qu'eu quero mudar, ouvi.

O mundo é dela, as palavras dela
Por que haveria eu de mudar?
-Não quero mudar teu mundo menina, disse.
-
-Seja bem vinda, ouvi.




 

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