quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Postado por Djessyka às 15:09 1 comentários
Às Palavras

A própria língua discorre sobre qualquer assunto, qualquer um. É assim, cada palavra fixa no seu lugar, colada, pregada, séria, carrancuda. Por ora, faz pequena diferença se está grafada correta, ou incorretamente. Talvez ache pouca graça em um erro ortográfico quase "infazível", mas passe batido um erro de concordância nominal e continue igualmente arrogante. Vou provar que não são tão sérias quanto parecem: O que realmente acontece quando você vira as costas, é que as palavras começam a tremer até sacudir o caderno, ou a tela do computador, e pulam. Todas pra fora da folha, umas caem espatifadas no chão, outras correm. Ou tentam. Mas, quando você torna a olhar, todas já se dispuseram em seus lugares e se realinharam exatamente na forma que você as deixou. Salvo algumas preposições que, por serem muito repetidas, trocam de lugar, mas você não percebe.
Se as palavras fazem isso no papel, assim, espertas, imagina o que fazem na mente. Uma vez que todas as palavras que você conhece estão presas na sua mente, é tudo uma algazarra. Correm, pulam, dançam, rodopiam. E você, pobre você, senta no silêncio do escritório pra escrever um relatório qualquer, sem saber da festa de palavras que sua mente tem que suportar.
Primeiro, quando você vai começar um texto e isso se torna impossível, é porque as palavras dão-se as mãos, seguram-se muito, muito forte umas nas outras e não deixam com que apenas duas ou três te entreguem um bom início. Ouso dizer que tiram algum sarro da sua cara quando você leva a mão à testa para forçar-se a escrever.
Finalmente, quando você começa a escrever, lhe foge a palavra perfeita para o contexto. Aí sim, aí você percebe que elas têm vida própria. Ela corre a sua volta, dribla você, e você não consegue capturá-la (aliás, demorei um pouco pra conseguir lembrar do verbo "capturar", me fugiu à mente). Ela ri. Quando você lembra, de uma vez por todas, escreve rápido. Por mais que ainda não seja a hora exata de utilizá-la, você escreve no canto da página pra lembrar depois. Algema a pobrezinha. Ela dança quando você vira as costas pra tomar um café, faz caretas como se menosprezasse sua presença, mas torna a algemar-se uma vez que foi escrita.
Algemadas, são sérias, mas não pense que ficam assim cem por cento do tempo. Basta você virar as costas. Em verdade, a maior alegria de todas as palavras é quando são abandonadas em um papel que nunca mais será encontrado: Pulam, saltam, estão livres! Mas, se você encontrar uma carta escrita há anos, guardada no fundo de um baú, estas palavras, já dispersas, correrão feito crianças pra que se disponham novamente em seus lugares de origem. Isenta de qualquer história de pescador, já percebi algumas preposições invertidas, mas as palavras não se mexem enquanto observo, elas nunca dariam o braço a torcer.
Digo com toda certeza que essa não é uma teoria, é um fato. Comprovado.
Como tudo nessa vida, ainda faltam alguns detalhes. Ainda não descobri se a palavra "perspicácia" foge mais rápido que a palavra "arrastar", por exemplo.
Vou prestar mais atenção. Mas, como disse, são só detalhes.
 
 

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