sábado, 17 de abril de 2010

Mulher

Postado por Djessyka às 11:39 7 comentários
Passei a entender pessoas discutindo política. Homens gordos que falam sobre Fundo Monetário Internacional e tomam cerveja na varanda, não falam mais grego enquanto eu arrasto minhas bonecas pela casa: Eu já sei traduzir tudo o que eles estão falando.
Posso entender quando a discussão é religião (mesmo sendo inviável). Aprendi que não preciso mais ter medo de passar no vestibular porque ninguém vai raspar minha cabeça.
Os amigos do meu pai não fingem mais que estão roubando meu nariz. Tô cada dia mais estranha, tô cada dia mais mulher.
Entendo piadas de adulto. Leio jornal, minto que gostei do presente, sento de pernas cruzadas. Engulo o riso.
Me falta pouca coisa pra terminar de ser mulher: Usar salto e comprar maquiagem, talvez. Eu poderia pintar as unhas de vermelho.

Sei que preciso abaixar a cabeça,
E aprender a disfarçar meus olhos quando enchem de lágrimas.
E assim que conseguir colar meus olhos no chão,
Virarei mulher.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Casa- coração

Postado por Djessyka às 13:22 13 comentários
Já ao entrar no portão de casa notei a grama por fazer. Digo por fazer, mas na verdade havia meses que ninguém fazia questão de cortá-la. Julgando com os olhos, a calçada que me levava até a porta de casa não era lavada a muito mais tempo: Tinham incontáveis pegadas de barro misturadas com a sujeira das rodas dos carros que ali estacionavam. A situação do carro na garagem era lamentável: Continuava fácil esboçar qualquer obra de arte na generosa camada de pó que o cobria por completo.

Pobres plantinhas, secas, sem um pingo d'água.

Entrei pela porta da cozinha onde montes e montes de louça suja descansavam sobre a pia, pedindo a piedade de quem passasse por ali. Haviam panelas engorduradas por toda parte. Na mesa, o resto do almoço de hoje misturava-se com alguma louça do almoço de ontem, que já não cabia mais naquela pia. Frutas podres gritavam por socorro enquanto mosquitinhos rodeavam e multiplicavam-se em sua podridão. Perdi a fome.

Resolvi descansar na sala até a hora de sair de novo. Ela fedia mofo. Quanto tempo fazia que não abríamos aquelas janelas? Me perdi nas contas. E quem ainda tinha feito o favor de comer na sala? Tropecei num copo.
Já não lembro mais o que tem nos quadros porque há quanto tempo não vejo aquelas luzes acesas. Os enfeites da estante... Cada um com seu significado... Cobertos de pó: Irreconhecíveis!

Claro que pelo corredor havia evidências de uma tentativa de limpeza: Um pano sujo largado em alguns cantos me mostrava isso, mas nem fiz questão de tirá-los de lá.

Desanimei.

Quando acendi a luz do meu quarto vi papéis por toda parte. A cama não é arrumada há dias, e minhas notas baixíssimas, todas beirando o zero, estavam jogadas algumas aqui, outras mais pra lá.
Na verdade, a bagunça das minhas coisas dentro do meu próprio quarto era o que mais me incomodava. Ao mesmo tempo, era onde eu tinha menos coragem de ameaçar a arrumação: Se eu tirar algo errado do lugar sozinha, arrisca ficar ainda mais errado. Sozinha não.
Sozinha, eu não tenho nem por onde começar.

Só cabia eu. Meu ego e eu.
Não tinha motivos pra arrumar já que ninguém olharia para dentro. Da minha casa, do meu quarto, de mim. Da casa-coração.


terça-feira, 6 de abril de 2010

Postado por Djessyka às 17:51 3 comentários


Dei um nó na minha cabeça, daqueles bem difíceis de desatar.

Se não dá pra desfazer o nó, vou continuar escrevendo com as idéias "enózadas".
Quanto mais nós desenterrar, mais difícil pra se entender. Não que estejam pra baixo da terra, mas se eu te emprestasse meus olhos por cinco minutos você poderia enxergar o mundo da mesma maneira que eu: Cheio de nós. Mas se eu fosse você, não tentaria desatar nenhum. Viso que é muito mais divertido enxergar o mundo assim, porque dá enxergar a beleza de um nó de sorrisos, misturada com nós de simplicidade, aí dá pra amarrar bem forte com outro nó. Quanto aos nós de sorrisos, eu posso amarrar um a um, de um jeito estranho, que não dá pra esquecer.
Dá pra desatar o nó da beleza do torto;
Da beleza do errado;
Da beleza do estranho;
Do que não sorri;
Amarrar todos com um único nó, e quando separá-los novamente cada um vai ter a beleza da própria essência. Acredite: Estamos vendo sentimentos de um jeito bem mais divertido. Agora eu te ajudo a amarrar tudo aquilo que você gosta, por mais que seja torto e estranho. Por mais que os outros te julguem errado. Por mais que eu te julgue errado. Seus nós têm sua própria forma. Enforque-me com um deles se precisar, mas você vai ter que desatar pelo menos um dos seus nós favoritos pra fazer isso. Nós que enforcam e revivem não viram mais você e eu. Nós. Apenas.
 

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