segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Postado por Djessyka às 14:24 0 comentários



Outro dia (provavelmente você não lembre), voltamos no tempo.
Voltamos porque (não me pergunte como) ganhei o direito de realizar um pedido. Dentro desse direito surreal e quase Hollywoodiano, eu poderia ter pedido qualquer coisa: um rio de moedas de ouro que desaguasse incansavelmente dentro da cozinha da minha casa. Poderia ter pedido um ano invertido: feriados nos dias letivos, dias letivos nos feriados. Qualquer coisa.
Entre todas as coisas possíveis e impossíveis que passaram pela minha cabeça, escolhi a que eu sempre quis: Ser criança ao mesmo tempo que você. De qualquer forma, depois de rejeitar o rio de moedas, alguém do departamento de desejos impossíveis abriu essa exceção.
Foi mais ou menos assim que eu ganhei um dia inteiro pra ser criança ao mesmo tempo que você. Você não lembra, mas nós acordamos cada um com sete ou oito anos de idade e, neste dia, eu pude brincar suas brincadeiras e rir das piadas que você contava, mesmo que elas não tivessem a graça que você esperava. E nós corremos pela casa e fora dela, vimos os ninhos dos pássaros, juntamos joaninhas dentro do pote de maionese, recortamos papel e tomamos banho de chuva. E, pela primeira vez, simultaneamente crianças, pude ver você correr destrambelhado, ainda que eu soubesse que certas coisas nunca mudariam. Obviamente (e quase inevitavelmente) brigamos porque eu colei a figurinha número nove no lugar da sexta de ponta cabeça e, descolando, você ficou chateado comigo. Brigamos e fizemos as pazes umas três ou quatro vezes naquele dia. Gargalhamos por vezes incontáveis e nos conhecemos crianças por apenas uma vez.
Pensei que todo encanto acabaria cinderelamente meia noite, mas meu tempo terminou na hora que as crianças costumam dormir.

De repente, os dezessete anos que nos separam, voltaram. E, depois de ter adorado ser criança ao mesmo tempo que você, percebi que dezessete anos não separam efetivamente. Ainda brigamos e vemos os ninhos dos pássaros. Continuo rindo das suas piadas, ainda que tenham melhorado pouco ou quase nada.
Percebi que crescemos em tempos diferentes, mas orientados pelas mesmas mãos excelentes que nos mostraram o quanto importa o amor que temos um pelo outro.
E, sinto em lhe contar, mas você ainda corre destrambelhado, ainda que não com tanta frequência.

Amiga-Manacá

Postado por Djessyka às 14:22 0 comentários


Quando o despertador toca (às seis) acordo como a maioria das pessoas e nenhuma princesa. Existe um filme quase que inédito na minha cabeça, maquinando dentro de quantas horas posso voltar a dormir, ainda que seja inútil uma contagem regressiva.
Depois de perceber que o mundo continua (quase) intacto, que não nevou incessantemente durante a noite. Depois de perceber que não caiu no meu trajeto nem um meteoro sequer, que o asfalto não rachou ao meio formando uma imensa e profunda cratera alcançando o centro da terra. Depois de aceitar que a lava incandescente do globo terrestre continua exatamente no lugar onde deveria estar, é nesse momento, então, que eu me rendo: preciso levantar.
Depois de tentar encarar a vida (nem tão) de frente, ao menos uma coisa me deixa feliz logo no começo do dia: o pé de Manacá. Quase que meu. Encontro-me perdoando-o quando não está em sua época de florir: ele não tem culpa. Encontro-me elogiando-o quando está majestosamente florido. Encontro-me amando aquele amigo-pé-de-Manacá.
Meu amigo-pé-de-Manacá sempre quis me lembrar alguém, ele quase gritava mas eu, encantada, não ouvia. Felizmente, outro dia, quando já estava longe, consegui ouvir os gritos da árvore:
- Não percebe, menina, que ao nascer sou branco como nuvem e, à medida que passa o tempo, vou ficando colorido? Transformo-me como mágica de uma cor leve até colorir completamente. Conforme passa, a vida das minhas flores ganha tanta beleza que envelhece com uma cor completamente diferente da que nasceu.
Tinha toda razão o pé de Manacá: era ele, majestoso e presente, representando quem eu não poderia olhar com os olhos todos os dias. Representava aquela que nascera branca como nuvem, mas colore-se ao passar dos dias; que, de maneira tão literal, põe cor em seu próprio eu.
Tinha razão o pé de Manacá: era ele que, de tantas flores desabrochadas escondia as próprias folhas, da mesma maneira que brincam as crianças, escondendo-se. Da mesma maneira que brinca aquela menina destrambelhada, mesmo que já mulher, recusando-se levar a vida a sério demais.
Tinha razão o pé de Manacá: era ele que, de tanta beleza, fazia com que as pessoas apressadas diminuíssem o passo, e com que as menos apressadas parassem completamente só pra admirá-lo.
Sorte a minha ver todo dia o pé de Manacá que, quase que meu, lembra-me exatamente a menina que deve lembrar. E, depois que ouvi os gritos da árvore, tenho me confundido com frequência: já não sei mais quem é menina e quem é Manacá.
Postado por Djessyka às 14:18 0 comentários





Se um ano fosse uma pessoa, seria inquestionavelmente grande. Para cima, para os lados (até mesmo porque trezentos e sessenta e cinco dias não caberiam em qualquer modelo magricela). Seria lento e pesado em alguns momentos, mas ágil e doce em raros outros. Se um ano fosse uma pessoa, não abriria sorrisos pra qualquer um, muito menos entregaria flores. Não faria gentilezas nem brigadeiros. 


Foi aí que tal ano-pessoa viu tal Isadora nascer e se pegou ao nosso lado achando lindo como ela dormia. Depois que tal Isadora achou graça, de sorriso em sorriso o ano dançou, e gargalhou, e virou poesia. E, depois que Isadora bateu palmas, o ano virou festa e se encheu de balões de todas as cores. 
A menina, de tão doce, fez o ano sorrir sem mais parar até transformá-lo em jujubas e quindins, e gargalhava percebendo como tudo ficou lindo depois que ela chegou. 

E, depois que Isadora completou um ano, já havia tornado o ano tão feliz, que nem pensávamos em voltar ao ano-pessoa de trezentos e poucos dias atrás.
Postado por Djessyka às 14:17 0 comentários



Como pôde ter minha infância passado de forma como passam as horas de uma manhã de sábado? Eu não vi passar.

Mas você viu.

Viu porque me serviu incontáveis xícaras de chá imaginário em louça de plástico. E, sem entender, me pergunto como pôde ter sido tão imensamente doce o sabor daquele chá sem qualquer consistência, que tomávamos por horas a fio, por insistência minha.
Crescemos juntas: quando criança costumava pensar que você era criança também.
E, de toda sua paciência, restou-me uma criação tão excelente que me cabe agradecer. Foi mais que mera ensaiada educação: aprendi a ser sensível diante do turbilhão de incertezas de um mundo inconstante como este, aprendi a sentir a dor das pessoas que precisam de mim.
Não nos servimos mais chás imaginários em xícaras de plástico. Uma pena. Mas conviver com você continua tão doce quanto a infância que passou diante dos nossos olhos.
 

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