sábado, 16 de outubro de 2010

Coisas que só eu entendo...

Postado por Djessyka às 22:24 4 comentários




Era janeiro. Não havia ninguém. As ondas quebravam com paciência como se agradecessem por mais aquele finalzinho de tarde. Penso que seria em vão já que elas trabalhariam durante a noite também...
Agora tinha uma menina.
Não sei exatamente o que ela estava tentando esconder, mas quanto mais ela tentava, mais claro ia ficando o quebra-cabeça daquele coração.

Tentei montar.

Enquanto eu me esforçava pra enxergar as peças através dos olhos frágeis da menina, ela me tirava certa dúvida que tive há um tempo atrás: Aprendi com ela que as pessoas que se importam com a gente de verdade podem ver tudo o que passa pela nossa cabeça- Mas elas enxergam através dos nossos olhos.
Volto pra menina.
Enquanto ela andava pela beira do mar, bem ali onde a água alcançava seus pés, dava quase pra vê-la em metades, na verdade, eu podia mesmo vê-la em metades.

Ela tinha olhos, mas estavam no chão.

Seu pensamento de repente cessou e ela apertou os olhos pra enxergar certa mancha que caminhava pela areia, em sua direção.
A menina preferiu fitar o chão quando a mancha decidiu tomar a forma de uma senhorinha, assim, ela não precisaria se quer cumprimentá-la. Friamente, calculou alguns passos até ter certeza de que estava longe o suficiente de ter que dar qualquer sorriso para a figura desconhecida, mas notou a frustração da tentativa quando sentiu os dedinhos leves da senhorinha em um de seus ombros. A menina não sorriu, mas a velhinha, com uma doçura indescritível, sorriu pelas duas.
Não sei dizer ao certo quem era aquela senhora, mas me parece que ela havia esperado por aquele encontro há anos. Seus olhos cansados contavam alguns pedacinhos de histórias incompletas. Não pude afirmar nada porque ela tinha muito mais escondido no coração.
A senhorinha olhou nos olhos da menina, derrubou algumas lágrimas e lhe entregou uma caixinha. A menina ameaçou um sorriso ao abrir o presente, agora ela parecia melhor. Fez questão de dar um sorriso completo e olhar nos olhos molhados da senhorinha. Não sei, mas o sorriso estampado no rosto da menina me deixava feliz. Sorri com ela.

Respirei fundo.
Notei que havia fechado os olhos por alguns minutos. E o sorriso desapareceu.
Ele nem tinha aparecido. Nada tinha aparecido:
A menina continuava triste fitando os próprios pés, não havia presente, não havia senhorinha. Havia apenas a menina, a menina de olhos baixos.
Continuei olhando pra ela, acompanhando seus passos e suas paradas.
Continuei montando e remontando o que os seus olhos desmontavam,

Olhei minhas mãos.

Nelas havia uma pequena caixa, da qual eu não fazia idéia do conteúdo. Não pensei duas vezes: Corri em direção a menina e coloquei a caixinha em suas mãos, ela deu aquele sorriso que eu tanto adorei minutos atrás, me abraçou e disse que voltaria assim que eu precisasse daquele presente.

Não perguntei. Eu não disse nada.
Esperei ela sumir no horizonte com a caixa nas mãos.
Eu não fazia idéia do que havia dentro dela,
mas a menina me disse que devolveria assim que eu precisasse.

Não sei porquê,
Mas eu confiei nela.

Eu confio nela.
 

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