Já ao entrar no portão de casa notei a grama por fazer. Digo por fazer, mas na verdade havia meses que ninguém fazia questão de cortá-la. Julgando com os olhos, a calçada que me levava até a porta de casa não era lavada a muito mais tempo: Tinham incontáveis pegadas de barro misturadas com a sujeira das rodas dos carros que ali estacionavam. A situação do carro na garagem era lamentável: Continuava fácil esboçar qualquer obra de arte na generosa camada de pó que o cobria por completo.
Pobres plantinhas, secas, sem um pingo d'água.
Entrei pela porta da cozinha onde montes e montes de louça suja descansavam sobre a pia, pedindo a piedade de quem passasse por ali. Haviam panelas engorduradas por toda parte. Na mesa, o resto do almoço de hoje misturava-se com alguma louça do almoço de ontem, que já não cabia mais naquela pia. Frutas podres gritavam por socorro enquanto mosquitinhos rodeavam e multiplicavam-se em sua podridão. Perdi a fome.
Resolvi descansar na sala até a hora de sair de novo. Ela fedia mofo. Quanto tempo fazia que não abríamos aquelas janelas? Me perdi nas contas. E quem ainda tinha feito o favor de comer na sala? Tropecei num copo.
Já não lembro mais o que tem nos quadros porque há quanto tempo não vejo aquelas luzes acesas. Os enfeites da estante... Cada um com seu significado... Cobertos de pó: Irreconhecíveis!
Claro que pelo corredor havia evidências de uma tentativa de limpeza: Um pano sujo largado em alguns cantos me mostrava isso, mas nem fiz questão de tirá-los de lá.
Desanimei.
Quando acendi a luz do meu quarto vi papéis por toda parte. A cama não é arrumada há dias, e minhas notas baixíssimas, todas beirando o zero, estavam jogadas algumas aqui, outras mais pra lá.
Na verdade, a bagunça das minhas coisas dentro do meu próprio quarto era o que mais me incomodava. Ao mesmo tempo, era onde eu tinha menos coragem de ameaçar a arrumação: Se eu tirar algo errado do lugar sozinha, arrisca ficar ainda mais errado. Sozinha não.
Sozinha, eu não tenho nem por onde começar.
Só cabia eu. Meu ego e eu.
Não tinha motivos pra arrumar já que ninguém olharia para dentro. Da minha casa, do meu quarto, de mim. Da casa-coração.
Blog Roll
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segunda-feira, 12 de abril de 2010
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13 comentários:
Ahhh, não apaga não!
Amo você pessoinha!
acho q todos os corações tem uns papéis jogados... hehe
♥
mt bom seu texto, gostei mesmo, bem interessante sua forma de contar historias pessoais e sentimentos
Vc escreve muito bem.
Que lindo teu texto, amei.
Poisé, é o que eu tô passando também, tudo que eu escrevi lá... Medo de perder, é Foda ne?
estou de seguindo flor!
Ei querida,
você tem talento!
Parabens.
Engraçado como ás vezes o que há dentro da gente se reflete por fora né?
beijos
parabéns pelo texto,
muitas vezes nosso ego nos cega,
me identifiquei com o penúltimo paragrafo.
tbm deixo de fzr muitas coisas pq so eu vou ver mesmo.
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meu, que bonito. gostei..
tristeza e solidão... imagens no espelho Dje. Ele se mostra o q ta na frente. Ta escrevendo muitooooooooooooooo menina!
Eu A-M-E-I o texto. Amei de verdade, e reflete um pouco do que estou sentindo.
bonito texto =]
vc escreve bem =]
Muuuito bom :D
Parabéns!
Awww, obrigada Fran, obrigada todo mundo!
Muito bom o texto
Parabens!
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