segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Amiga-Manacá

Postado por Djessyka às 14:22


Quando o despertador toca (às seis) acordo como a maioria das pessoas e nenhuma princesa. Existe um filme quase que inédito na minha cabeça, maquinando dentro de quantas horas posso voltar a dormir, ainda que seja inútil uma contagem regressiva.
Depois de perceber que o mundo continua (quase) intacto, que não nevou incessantemente durante a noite. Depois de perceber que não caiu no meu trajeto nem um meteoro sequer, que o asfalto não rachou ao meio formando uma imensa e profunda cratera alcançando o centro da terra. Depois de aceitar que a lava incandescente do globo terrestre continua exatamente no lugar onde deveria estar, é nesse momento, então, que eu me rendo: preciso levantar.
Depois de tentar encarar a vida (nem tão) de frente, ao menos uma coisa me deixa feliz logo no começo do dia: o pé de Manacá. Quase que meu. Encontro-me perdoando-o quando não está em sua época de florir: ele não tem culpa. Encontro-me elogiando-o quando está majestosamente florido. Encontro-me amando aquele amigo-pé-de-Manacá.
Meu amigo-pé-de-Manacá sempre quis me lembrar alguém, ele quase gritava mas eu, encantada, não ouvia. Felizmente, outro dia, quando já estava longe, consegui ouvir os gritos da árvore:
- Não percebe, menina, que ao nascer sou branco como nuvem e, à medida que passa o tempo, vou ficando colorido? Transformo-me como mágica de uma cor leve até colorir completamente. Conforme passa, a vida das minhas flores ganha tanta beleza que envelhece com uma cor completamente diferente da que nasceu.
Tinha toda razão o pé de Manacá: era ele, majestoso e presente, representando quem eu não poderia olhar com os olhos todos os dias. Representava aquela que nascera branca como nuvem, mas colore-se ao passar dos dias; que, de maneira tão literal, põe cor em seu próprio eu.
Tinha razão o pé de Manacá: era ele que, de tantas flores desabrochadas escondia as próprias folhas, da mesma maneira que brincam as crianças, escondendo-se. Da mesma maneira que brinca aquela menina destrambelhada, mesmo que já mulher, recusando-se levar a vida a sério demais.
Tinha razão o pé de Manacá: era ele que, de tanta beleza, fazia com que as pessoas apressadas diminuíssem o passo, e com que as menos apressadas parassem completamente só pra admirá-lo.
Sorte a minha ver todo dia o pé de Manacá que, quase que meu, lembra-me exatamente a menina que deve lembrar. E, depois que ouvi os gritos da árvore, tenho me confundido com frequência: já não sei mais quem é menina e quem é Manacá.

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