Era incrível aos olhos da menina o quanto as pessoas pareciam melhorar quando ela contava-lhes uma história qualquer.
A mulher que sempre trazia chocolates tinha a voz tão doce quanto os mesmos. Quando a pequena Kimy ouvia sua voz, saía em disparada. Tinha a senhora com a voz tão engraçada que a menina imaginava sua casa cheia de cachorros, mas nunca perguntou se ela realmente os tinha, a resposta poderia ser negativa e Kimy poderia se decepcionar. As crianças doentinhas chegavam de vez em quando e, por estas, Kimy tinha um carinho especial: apoiava os bracinhos magros na maca, oferecia sua mão, e, em poucos segundos, sentia outra mãozinha na sua. Ela sabia que nem todas as crianças tinham tanta afinidade por agulhas como ela, afinal, quando a menina adoecia, o pai espetava-lhe agulhas e ela, com dor, sorria, pois o pai já havia lhe contado como as pessoas pareciam verdadeiros porcos-espinhos naquele momento.
Kimy esperava os dois melhores momentos do dia: as últimas agulhas tilintando na pequena bandeja. As agulhas tilintavam a todo momento. A cada cliente que ia embora, haviam agulhas a tilintar, pra você, pra mim e pra qualquer um que estivesse lá, os barulhos seriam exatamente iguais, mas jamais para Kimy, ela sabia exatamente quando a tilintada significava "almoço com o pai" e "hora de ir para casa". Sentia uma alegria quase inexplicável quando ouvia a última tilintada da manhã porque adorava sentar à mesa com o pai, mostrando que já podia comer sozinha. Kimy sentia-se revigorada para voltar e conversar com seus amigos. Ela sabia que sexta-fera encontraria a senhora Keiko, que iria lhe contar sobre seus netinhos.
Mas a melhor hora era a última tilintada. Quando as últimas agulhas tilintavam na bandeja, Kimy ajudava o pai com os lençóis e toalhas, e subiam os dois para casa e conversavam como dois adultos, brincavam como duas crianças, Kimy fazia de conta que espetava agulhas no pai, e estavam sempre os dois, sozinhos e sempre juntos, juntos sozinhos, pai e filha como se fossem um só.
Como fazia uma vez por semana, o pai de Kimy deixou a menina na casa da avó para limpar seu estabelecimento. Como sempre, comprou o doce de frutas preferido de Kimy, e, de trem, deixou a menina com a avó para realizar a limpeza. Kimy vestia sua melhor saia de pregas e limpava seus sapatinhos para a visita semanal. Levava um livro de histórias em baixo do braço para que a avó lesse um bom conto de fadas, afinal, Kimy contava histórias durante toda a semana, então, neste dia, gostava de adormecer ouvindo a voz da avó. A avó era brilhante ao descrever as figuras dos livros para Kimy, ninguém poderia explicar melhor como eram as nuvens, o céu, a Lua, as estrelas, e até as cores. Neste dia, a pequena Akemi só sentia falta de uma coisa: O tilintar das agulhas que a acalmavam e a colocavam em um estado de ânimo indescritível. Mas ela sabia que no dia seguinte, ouviria aquele tilintar, sabendo que ali estaria o pai, pronto para dedicar-lhe tempo.
***
Completamente destruído, o estabelecimento do pai, juntamente com a casa dos dois, levou o melhor amigo da menina. Foi a bomba. Kimy ouviu a avó falar baixinho. Ela não sabia, mas era 6 de agosto de 1945 e nunca mais voltaria a ouvir o tilintar das agulhas na bandeja. Se quer sabia se seus amigos doentes ainda estavam vivos. Se quer sabia onde morava agora. Akemi não conseguia lembrar do som das agulhas e por isso chorou. Estava agora cega dos ouvidos. O único lugar que ela conhecia exatamente como a palma de sua mão fora destruído por uma única bomba. Agora, e só agora sentiu-se cega de verdade. Agora, e somente agora sentiu-se sozinha de verdade.
A mulher que sempre trazia chocolates tinha a voz tão doce quanto os mesmos. Quando a pequena Kimy ouvia sua voz, saía em disparada. Tinha a senhora com a voz tão engraçada que a menina imaginava sua casa cheia de cachorros, mas nunca perguntou se ela realmente os tinha, a resposta poderia ser negativa e Kimy poderia se decepcionar. As crianças doentinhas chegavam de vez em quando e, por estas, Kimy tinha um carinho especial: apoiava os bracinhos magros na maca, oferecia sua mão, e, em poucos segundos, sentia outra mãozinha na sua. Ela sabia que nem todas as crianças tinham tanta afinidade por agulhas como ela, afinal, quando a menina adoecia, o pai espetava-lhe agulhas e ela, com dor, sorria, pois o pai já havia lhe contado como as pessoas pareciam verdadeiros porcos-espinhos naquele momento.
Kimy esperava os dois melhores momentos do dia: as últimas agulhas tilintando na pequena bandeja. As agulhas tilintavam a todo momento. A cada cliente que ia embora, haviam agulhas a tilintar, pra você, pra mim e pra qualquer um que estivesse lá, os barulhos seriam exatamente iguais, mas jamais para Kimy, ela sabia exatamente quando a tilintada significava "almoço com o pai" e "hora de ir para casa". Sentia uma alegria quase inexplicável quando ouvia a última tilintada da manhã porque adorava sentar à mesa com o pai, mostrando que já podia comer sozinha. Kimy sentia-se revigorada para voltar e conversar com seus amigos. Ela sabia que sexta-fera encontraria a senhora Keiko, que iria lhe contar sobre seus netinhos.
Mas a melhor hora era a última tilintada. Quando as últimas agulhas tilintavam na bandeja, Kimy ajudava o pai com os lençóis e toalhas, e subiam os dois para casa e conversavam como dois adultos, brincavam como duas crianças, Kimy fazia de conta que espetava agulhas no pai, e estavam sempre os dois, sozinhos e sempre juntos, juntos sozinhos, pai e filha como se fossem um só.
Como fazia uma vez por semana, o pai de Kimy deixou a menina na casa da avó para limpar seu estabelecimento. Como sempre, comprou o doce de frutas preferido de Kimy, e, de trem, deixou a menina com a avó para realizar a limpeza. Kimy vestia sua melhor saia de pregas e limpava seus sapatinhos para a visita semanal. Levava um livro de histórias em baixo do braço para que a avó lesse um bom conto de fadas, afinal, Kimy contava histórias durante toda a semana, então, neste dia, gostava de adormecer ouvindo a voz da avó. A avó era brilhante ao descrever as figuras dos livros para Kimy, ninguém poderia explicar melhor como eram as nuvens, o céu, a Lua, as estrelas, e até as cores. Neste dia, a pequena Akemi só sentia falta de uma coisa: O tilintar das agulhas que a acalmavam e a colocavam em um estado de ânimo indescritível. Mas ela sabia que no dia seguinte, ouviria aquele tilintar, sabendo que ali estaria o pai, pronto para dedicar-lhe tempo.
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Completamente destruído, o estabelecimento do pai, juntamente com a casa dos dois, levou o melhor amigo da menina. Foi a bomba. Kimy ouviu a avó falar baixinho. Ela não sabia, mas era 6 de agosto de 1945 e nunca mais voltaria a ouvir o tilintar das agulhas na bandeja. Se quer sabia se seus amigos doentes ainda estavam vivos. Se quer sabia onde morava agora. Akemi não conseguia lembrar do som das agulhas e por isso chorou. Estava agora cega dos ouvidos. O único lugar que ela conhecia exatamente como a palma de sua mão fora destruído por uma única bomba. Agora, e só agora sentiu-se cega de verdade. Agora, e somente agora sentiu-se sozinha de verdade.
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